Catolicismo Negro
Para falar sobre o sincretismo religioso, convém analisar o que Souza (2002) denomina de “catolicismo negro”. Para a mesma, o catolicismo serviu de ligação com o passado africano, tendo em vista o fato de este passado ser importante para a formação de novas identidades das comunidades afro-brasileiras, de afrodescendentes da diáspora.
Um dos elementos que deu subsídio à autora para a análise desta ligação foi a festa de coroação dos reis do Congo que ocorriam no Brasil do século XVII. Essa festa detinha um olhar diferenciado de sua essência, observado a partir da forma particular de ser de cada comunidade e pela sociedade lusitana senhorial da época, que nem sempre observava sob a mesma ótica. Ora de forma opressora e ora com condescendência. Para a autora, enquanto para uns as festas em torno dos reis remetiam a chefias africanas, a ritos de entronização, à prestação de fidelidade, para outros elas se associavam à noção de um império, que se estendia pelos quatro cantos do mundo: Europa, África, América e Ásia, e que tinha experiência da catequese na região do antigo reino do Congo como um dos momentos emblemáticos do empenho evangelizador de Portugal (SOUZA, 2002, pp.127-128).
Essa representação religiosa se deu em virtude de fatores favoráveis a mesma, tanto pelo lado dos africanos, quanto pelo dos portugueses, uma vez que tanto serviam para referenciar um rei da África, como para o senhor dos escravos, que, se a permitisse, era porque havia gostado, caso contrário, reprimiria com certeza.
Diante desse contexto, pode-se dizer que houve uma composição de significados em torno da festa do Rei Congo. Esta que, nascida por meio de uma organização social específica, era formada por grupos étnicos, pescadores e carregadores. Essas disposições sociais solidificaram laços de amizades e formaram os terreiros que cultuavam orixás, fazendo oferendas aos antepassados, com a passagem de entidades sobrenaturais, ao som