Caso HM
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Edição 28 > _despedida > Janeiro de 2009
O paciente H.M.
Por trás dessas duas iniciais, a história de um filho de eletricista cujo cérebro recebe cuidados semelhantes aos de Einstein por Ana Carolina G. Pereira
Em 2 de dezembro de 2008, o cidadão americano Henry Gustav Molaison, recostado numa cama da clínica Bickford, no estado de Connecticut, passou "sua última tarde como ele mesmo", como escreveu o poeta W.H. Auden num verso de Em Memória de W.B. Yeats. Só que o paciente octogenário, ao contrário do irlandês William Butler Yeats, não sabia o que era ser ele mesmo. Molaison passou dois terços de seus 82 anos sem saber exatamente quem era. Conhecido na comunidade científica apenas pelas iniciais, para ter a privacidade preservada, H.M. ficou preso involuntariamente ao passado devido a uma trágica experiência que lhe sonegou o presente e o futuro. Em compensação, deu à ciência várias chaves do conhecimento da memória.
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Após trinta anos acompanhando o paciente, a dra. Brenda Milner ainda tinha que se apresentar a cada vez que o visitava: "Sou a dra. Milner." E ela sabia que sempre que encontrasse H.M. teria que se identificar novamente.
Aos 9 anos de idade, Molaison sofrera um traumatismo craniano em um acidente de bicicleta que o levou a ter inúmeras e incapacitantes crises epilépticas, intratáveis com medicação. Em 1953, aos 27 anos, foi submetido a uma cirurgia experimental no cérebro, que lhe removeu ambos os hipocampos e regiões adjacentes, responsáveis pela geração das crises.
A epilepsia de Molaison foi parcialmente controlada, mas o paciente sofreu um efeito colateral irreversível: perdeu a capacidade de formar novas memórias. Ele não conseguia, por exemplo,
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