Caso Eichmann
Caso Eichmann
Em 1960, o Mossad, a polícia secreta de Israel, invadiu a Argentina, capturou e retirou do país um dos mais procurados criminosos nazistas que fugiram após a Segunda Guerra
Bruno Leuzinger | 01/07/2004 00h00
Naquela noite, o ônibus que trazia Ricardo Klement do trabalho atrasou um pouco. Ele saltou no ponto de sempre, bem perto de sua casa, onde Vera e os meninos o esperavam. A região era meio deserta e afastada do centro, mas ele apreciava o isolamento. Dobrando a esquina, viu uma limusine preta parada, com o capô levantado. Do lado de fora, um homem checava o motor. Quando Klement passou, foi interrompido bruscamente: “Momentito!”, disse o desconhecido, em um arremedo de espanhol. Era obviamente estrangeiro. Klement hesitou, e o estranho pulou em cima dele, tentando segurar seus braços. Ele gritou, se debateu e os dois caíram no chão. Logo surgiu um terceiro homem, depois mais outro, dominaram Klement e o botaram no banco de trás da limusine. O carro partiu em disparada. Então o motorista virou-se e disse em alemão: “Não se mova e ninguém vai machucá-lo. Mas se resistir, atiramos”. Klement ficou em silêncio por uns segundos. Finalmente, respondeu, também em alemão: “Eu já aceitei o meu destino”.
Naquele 11 de maio de 1960 chegavam ao fim 15 anos de fuga. O homem magro, calvo e míope que trabalhava em uma fábrica da Mercedes-Benz e dizia se chamar Ricardo Klement era na verdade um dos criminosos nazistas mais procurados do mundo: Adolf Eichmann. “Seu papel principal foi coordenar as atividades práticas da implementação da ‘solução final’”, diz Efraim Zuroff, diretor da sucursal de Jerusalém do Simon Wiesenthal Center, dedicado à caça de nazistas. De seu escritório em Berlim, Eichmann organizava as rotas dos trens que seguiam para os campos de extermínio. Em outras palavras, era ele quem carimbava as passagens de homens e mulheres de origem judaica forçados a partir com destino a lugares cujos nomes ainda hoje provocam