Cartas Filosóficas
Lettres philosophiques, 1734.
VOLTAIRE (François Marie Arouet, dito), 1694-1778.
Essas cartas, em número de vinte e cinco, foram redigidas por Voltaire ao voltar da Inglaterra, entre 1729 e 1733, donde o nome Cartas inglesas. Do outro lado da Mancha, Voltaire descobrira a filosofia de Newton, a liberdade parlamentar, a tolerância, o livre pensar. Seu intuito era levar todo o continente a tirar proveito daquelas boas coisas!
Por trás de uma sátira permanente da sociedade francesa e de suas taras (despotismo, intolerância, privilégios), descobre-se um pensamento positivo sobre a liberdade e seus benefícios.
As primeiras cartas (I a VII) criticam o cristianismo católico, os padres, e exaltam a tolerância dos quakers, cuja religião está bem mais próxima do deísmo. Voltaire ataca os anglicanos e os presbiterianos, cuja intolerância e cuja rigidez são consideradas perigosas, e defende a idéia da necessária subordinação da religião ao governo civil. Aliás, o autor nada vê, nas Escrituras, que se oponha ao desaparecimento dos sacramentos e à supressão do corpo clerical.
Depois de três cartas dedicadas à política e às instituições (VIII, IX, X), são abordados os assuntos mais diversos: filosofia, teoria do conhecimento, comparação do cartesianismo com a física de Newton, literatura e liberdade de expressão.
A carta XXV, Sobre os pensamentos de Pascal, merece menção especial: o pessimismo pascaliano, que afasta o homem da ação, sua obstinação em querer provar o valor do cristianismo, que pode redundar na intolerância, tudo isso horroriza Voltaire. Este se compraz a fustigar as inconsequências dos Pensamentos e a propor um ideal puramente laico de felicidade humana.
Essas Cartas marcam uma reviravolta na carreira literária de Voltaire. Pelo tom e pela alacridade do estilo, inauguram o período das suas grandes obras polêmicas. Consciente da força do que escrevera, Voltaire não teve pressa em publicá-las. Mas, feito isto, um