Carta à futuras gerações
Contemporaneamente, há uma simultânea tendência entre uma concepção global da infância e a crescente consciência da sua diversidade ao redor do mundo. O processo de globalização cultural que tanto homogeneíza quanto diferencia as condições sociais da infância contemporânea possibilita que a infância passe a ser vista como formatada, simultaneamente, por sua homogeneidade – enquanto estrutura de tipo geracional permanente nas sociedades – e por sua heterogeneidade – um fenômeno marcado pelas variáveis de classe, gênero, etnia, nacionalidade, etc. A partir desta compreensão, uma variedade de possíveis infâncias emerge. A desconstrução do modelo moderno de infância que permitiu ou impeliu a admitir-se a existência de múltiplas infâncias, coloca a possibilidade do seu caráter ser, em verdade, “aberto” e sujeito a contínuas transformações. Este processo de transformação de nossas representações tradicionais da infância pode ser creditado à fragmentação do seu significado pela força da dinâmica dos processos gêmeos de modernização e individualização (características da modernidade ocidental) hoje radicalizados na chamada segunda modernidade. A infância na contemporaneidade (não mais somente a infância pobre) está, ela também, sob a atual égide do “faça-o você mesmo”, ou seja, as crianças passam a arcar com a construção de sua própria biografia no chamado “projeto reflexivo do eu” (Giddens, 2002) e de serem responsabilizadas (juntamente com suas famílias) pelo sucesso ou fracasso desta tarefa. Assim, a 2ª modernidade, ao f azer de cada criança um “indivíduo de direitos” responsável por sua auto-realização, liberta-a relativamente dos laços que a atavam solidamente às instituições família e escola. Isto é, a radicalização