Carta capital

Sobre coisas inúteis1

Para o cientista político americano Benjamim Barber, o capitalismo atual é preguiçoso e apóia-se no consumo insano de bens absolutamente irrelevantes.

Celebrizado nos anos 1990 por seu livro Jihad vs. McMundo, traduzido para 20 idiomas, o cientista político americano Benjamim Barber foi uma das vozes mais ouvidas no meio acadêmico ao opor-se abertamente aos dogmas do neoliberalismo e a um modelo de capitalismo que minava as próprias bases, enquanto alimentava a intolerância no Oriente.
Há três anos, ampliou as críticas as analisar as consequências do estilo de vida ocidental em
Consumido – Como o mercado corrompe crianças, infantiliza adultos e engole cidadãos. Com título quase auto-explicativo, a obra concentra-se na crítica aos hábitos de compras nos países ricos e, sobretudo, ao esbanjamento de recursos no mundo desenvolvido.
O autor esteve em São Paulo entre 16 e 17 de março, a convite do Instituto Alana, para participar do 3º Fórum Internacional Criança e Consumo. Nesta entrevista à
CartaCapital,Barber procura aplicar suas ideias ao contexto brasileiro – um país em transição onde, segundo diz acreditar, ainda há escolhas importantes por fazer, capazes de desenhar um futuro menos sombrio abaixo da linha do Equador.
CartaCapital: O senhor é um crítico do capitalismo, especialmente do modo como o sistema expandiu-se nos países desenvolvidos. Um país como o Brasil, em desenvolvimento, tem como seguir um rumo diferente?
Benjamim Barber: O Brasil é um caso particularmente interessante. O que argumento em meu livro é que o capitalismo de consumo se foca em pessoas que não têm necessidades, mas têm muito dinheiro. Nos países desenvolvidos, o problema é que há poucas necessidades reais, porque o capitalismo conseguiu atender as necessidades da democracia.
No mundo subdesenvolvido, há muitas necessidades, mas não há dinheiro. O capitalismo de hoje pode ser chamado de preguiçoso. Um bom exemplo é o da água. As empresas