Carta aberta a Bento XVI
A carta foi escrita por Ivan Quintavalle (Estudante, I Ciclo di Teologia) e publicada originalmente em “Notizie dalla Santa Croce”, informativo da Pontificia Università della Santa Croce – Roma.
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Meu doce Bento, são dias estranhos esses, sabe? Há uma estranha atmosfera por aqui.
A euforia é tanta, o mundo parece estar de repente em busca de conversão. Talvez seja mesmo assim, espero realmente que seja assim. No entanto, eu, eu não consigo estar contente.
Pouco importa. Mas eu tento entender o porquê.
Esta noite tentei deixar claro no meu coração. Infelizmente, não tendo a sua santidade, não posso viver tudo isso com a sua mesma paz de espírito.
Bem, na luta contra a insônia, eu entendi a razão para essa minha sútil tristeza. A principal causa do meu mau humor é a minha ingratidão. Talvez seja o mais óbvio mal de todos os homens, e é o mal que, mais do que todos os outros, me faz ser menos homem. Estamos tanto eufóricos nestes dias de recém-descoberta pobreza, que já não pensamos mais em você, que neste momento é o mais pobre de todos.
Você escolheu a solidão e o silêncio; você não ama mostrar a sua pobreza ao mundo. Porque você nunca quis alardear suas virtudes. Você pôs suas virtudes a serviço de todos nós e da Igreja de Cristo. Você exerceu suas virtudes de modo tão discreto e impessoal que não as fez parecer suas.
Como tenho sido ingrato e sem amor por você!
Eu duvidei de sua escolha, foi tentado por um momento a reconhecê-la como um ato de covardia. Mas, nestes dias brilham mais a sua grandeza. Na verdade, a fazem resplandecer, mas de uma forma invisível. Você, Santidade escolheu a ocultação, a clausura. Quanta grandeza, quanta coragem. Nenhum amor-próprio. Apenas a Cruz. E nós continuamos a fazer comparações. Fizemos-las com seu amado predecessor João Paulo II, enquanto você escrevia páginas memoráveis e silenciosas do Magistério da Igreja. E as fazemos agora, enquanto você, com a sua ausência