APAC
do cardeal Fiorenzo Angelini
Quando ouvi a homilia pronunciada pelo cardeal Joseph Ratzinger, decano do Sacro Colégio, por ocasião das exéquias em sufrágio de sua santidade João Paulo II, tive a forte sensação de que seria ele quem o sucederia numa tarefa que, mais tarde, realizada a eleição, ele mesmo definiria “inaudita”.
Na realidade, para mim, não se tratava de uma sensação simplesmente emotiva, mas objetivamente motivada, uma vez que em suas palavras, em sua bagagem espiritual e cultural e em sua comoção contida com grande esforço pelo falecimento do papa Wojtyla, se vislumbrava a confirmação do desígnio providencial da continuidade do magistério e do ministério petrino.
A insistência no “segue-me” evangélico, repetido – na citada homilia – nada menos que oito vezes, pareceu-me quase transferir visivelmente para aquele que o proferia diante do caixão do inesquecível Pontífice a imagem da passagem de testemunho na direção da Igreja.
Falei de desígnio providencial, uma vez que a eleição de Bento XVI quase automaticamente apagou o estereótipo caro à imprensa apressada, que durante anos havia definido Joseph Ratzinger como o “guardião” da fé, com todas as ambigüidades que uma definição como essa comporta.
O conclave, guiado pela inspiração do Espírito, não dava à Igreja um “guardião” da fé, mas um Pastor que o Senhor havia preparado longamente, tanto que, depois que tudo estava consumado, a eleição a pontífice de Joseph Ratzinger pareceu tão natural a ponto de ser vista até como óbvia. Mas as coisas de Deus nunca são tão simples, e a leitura que se faz delas nunca pode ser confiada a cálculos meramente humanos.
Quem, por razões de estudo e formação teológica e eclesiológica, lembra as primeiras e logo notórias publicações organizadas pelo professor Joseph Ratzinger quando ensinava Teologia Dogmática e Fundamental na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising e obtia a docência em Bonn, sabe