Carpe Diem
"Carpe diem"
É relativamente comum ver as pessoas falarem com muito entusiasmo "Carpe diem!". O "Colha o dia!", no sentido de "Aproveite o dia!" parece a comprovação da energia vital aplicada ao máximo.
Mas o professor Mário Sérgio Cortella nos mostra uma outra perspectiva a esse respeito, em "Nos labirintos da moral".
Ele diz: "Aquilo que eu entendo como o pior legado do mundo romano... é a noção do carpe diem, aproveite o dia, aproveite o hoje. Porque as pessoas esquecem que, quando os romanos elevaram o carpe diem a uma natureza de virtude, aquela sociedade já estava em decadência" - ou seja, é como um moribundo, a quem só resta "sorver" as últimas gotas de vida, não por heroísmo, mas por necessidade, diante do seu fim.
O professor Cortella continua: "Esse não é o lema do século I a.C. (quando Horácio o escreveu nas suas odes), mas dos séculos III e IV depois de Cristo, quando o Império no Ocidente já começava a se esboroar. Na minha opinião, o carpe diem é, talvez, a mais negativa forma de estruturação de valores que se possa ter hoje, especialmente para os jovens. Por quê? Antes de mais nada, porque estamos dizendo aos jovens que não haverá futuro [...] Nós estamos lhes dizendo: 'Vivam o presente, Carpe diem". E essa é a lógica que leva uma parte dos jovens que conheço... a um nível de exaustão do dia. Eles vivem de forma desesperada, aqui no sentido de ansiedade obsessiva. Tudo é agora. Não existe a noção de tempo elástico, nem a de futuro. 'Mas essa pode ser minha última festa. Pai, eu tenho que ir, porque amanhã eu posso morrer. Eu preciso aproveitar a vida'. Creio que essa lógica de alguém aos 15 anos de idade dizer que precisa aproveitar a vida porque ela está se esvaindo como água pelo vão dos dedos é a pior contribuição que o mundo latino recebeu. Há jovens que, em razão disso, começam a consumir substâncias que teoricamente podem acelerar ou intensificar seu 'aproveitamento' - seja ingerindo bebidas alcoólicas em