Capitu E Bentinho
Desde que foi lançado, em 1899, até a década de 60, Dom Casmurro foi lido como as memórias de um homem desiludido por ter sido traído pela mulher e pelo melhor amigo. Bentinho, o narrador, conta a história do amor por Capitu e depois a dor pela traição dela com Escobar.
Mas, no início dos anos 60, essa leitura foi modificada com a ajuda da crítica norte-americana Helen Caldwell, que escreveu o livro O Otelo Brasileiro de Machado de Assis. “A partir da referência direta a Shakespeare e, especificamente, a Otelo, Caldwell leu Dom Casmurro como as memórias narradas por um homem ciumento”, explica Antônio Sanseverino, professor do Instituto de Letras da UFRGS. A comparação com Otelo é justificada: o ciúme levou Otelo a dar ouvidos a Iago e acreditar na traição de Desdêmona, que era inocente. “A partir dessa relação, pode-se ler o romance como a escrita de Bento, homem ciumento e cheio de imaginação, que condena Capitu sem ter provas e vê, em seu filho Ezequiel, a imagem de Escobar”, diz Sanseverino.
Ou seja, muitas leituras foram feitas sobre o livro, mas nenhuma levou a uma conclusão definitiva sobre o possível adultério. O que se pode afirmar é que o narrador não dá voz para Capitu e, desde o início da narrativa, dá pistas que tentam fazer o leitor duvidar do caráter da personagem.
Sanseverino traz alguns exemplos: “Bentinho diz que ela, aos 14 anos, era muito mais mulher do que ele era homem. Depois, descreve sua beleza, sem deixar de apontar a pobreza de sua condição. Não deixa de apontar sua dissimulação,