Dois argumentos para defender a tese de que Capitu traiu Bentinho, de que Ezequiel era filho de Escobar. O primeiro argumento é literário; o segundo, do próprio narrador.
O argumento literário me diz que, se Capitu não traiu Bentinho, o romance deixa de ser sobre o adultério para ser uma obra sobre o ciúme. E Machado de Assis, em “Dom Casmurro”, capciosamente dedica um capítulo inteiro a “Otelo”, de Shakespeare. E nos diz que o próprio narrador considera a peça shakespeareana “a mais sublime tragédia deste mundo”. Na contramão, se Capitu traiu Bentinho, o romance machadiano mantém tematicamente a sua fidelidade ao Realismo, já que o adultério é o tema mais freqüente nos romances do fim do século 19.
E por que Machado de Assis ou Bentinho escreveria uma obra sobre o ciúme se já existia “a mais sublime tragédia deste mundo” sobre o tema?
Uma obra sobre o ciúme, no Realismo, desdiz os interesses literários da época. O ser humano deixa de ser o vilão para ser a vítima. O ciúme é tema típico de escritores românticos, que põem seus personagens em sofrimento por conta de seus próprios sentimentos. Matam e morrem por amor. Sofrem com o ciúme, a inveja, a angústia, a injustiça. Shakespeare não era um romântico, era um clássico. E os clássicos se encontram entre os realistas e os românticos. Querem uma obra de arte bem acabada, independente da condição humana dos seus personagens.
Machado de Assis, ao contrário, não vê ser humano algum como vítima e, sim, como seres imperfeitos capazes de cometer qualquer barbaridade. Seus personagens todos agem em função de seus interesses racionais e ou materiais. Se os personagens românticos são movidos pela emoção, os realistas são guiados pela razão. Os realistas não se deixam levar pelos sentimentos e só por isto já não podem ser vistos como vítimas e, sim, como predadores destinados a realizar seus objetivos mais íntimos. Quanto ao argumento do narrador, a mãe de Bentinho, alguns anos depois do nascimento do neto,