Capitalismo
1. A permanência do mandismo
A peculiaridade da industrialização brasileira, antes referida, teve como um de seus resultados mais persistentes a permanência do autoritarismo, tanto nas relações sociais como na forma de se organizar o poder de estado.
Trata-se de uma questão exaustivamente debatida pelas ciências sociais no Brasil. Nem por isso, entretanto, ela é menos atual: não foi outra coisa que esteve por trás das polêmicas no Congresso Constituinte de 1987-8, em torno de pontos cruciais como o papel das Forças Armadas, a propriedade da terra, a liberdade de greve e a liberdade sindical.
O problema pode ser formulado da seguinte forma: o desenvolvimento capitalista no Brasil não significou o fim do mandismo e de todas as práticas que marcaram a dominação oligárquica e coronelística na sociedade brasileira: o paternalismo, a prática do favor, o uso privado do poder público (com sua regra do “para os amigos pão, para os inimigos pau”), a exclusão das classes dominadas da vida política, a sistemática repressão às suas formas de protesto e de organização.
A constituição da ordem social capitalista no Brasil não foi acompanhada pela eliminação da estrutura agrária latifundiária, base do poder das oligarquias. Ao contrário, concentrou ainda mais a propriedade da terra.
Do ponto de vista social e político, a peculiaridade da industrialização brasileira consistiu, portanto, na acomodação dos interesses dos setores “tradicionais” (as oligarquias agrárias) das classes dominantes com seus setores “modernos” (a burguesia financeira e indudtrial). Isso não exclui eventuais escaramuças entre esses dois setores das classes dominantes, como as que ocorrem durante a República Velha (1889-1930) em torno de determinadas medidas de política econômica, como a taxação de produtos manufaturados importados ou a liberação da importação de matéria-prima utilizada pela indústria.
Em que pese às divergências