A passagem para o século XX no Brasil é marcada pela abolição da escravatura e pela proclamação da República. Apenas um aparente avanço, já que a República foi proclamada por um golpe de Estado articulado pela aristocracia rural com apoio do exército. O negro, apesar de não ser mais escravo, permanece excluído na sociedade. Soma-se a esta estagnação, a manutenção do latifúndio monocultor como base econômica da República Velha. Mudava apenas a forma. A República não era pública, e sim oligárquica. A monarquia caiu porque se tornou obsoleta frente a algumas mudanças sócio-econômicas representadas pela vida urbana no Sudeste. Enquanto isso, no campo, o povo continuou vivendo em condições sub-humanas e excluído do processo político. O trabalhador rural permaneceu pobre e explorado e com as dificuldades econômicas da República Velha, a situação da população rural se agravou ainda mais produzindo uma série de movimentos populares. Foi nesse contexto que no início do século XX, grupos armados chamados de cangaceiros começaram a atuar no sertão nordestino, constituindo o que o historiador Eric Hobsbawm chamou de banditismo social. Eram homens pobres e destemidos que atacavam armazéns e fazendas, distribuindo comida para o povo, sendo por um outro lado, extremamente cruel com seus inimigos, não hesitando em torturar, estuprar e executar. A população pobre que colaborava com os cangaceiros era protegida e tratada com generosidade. A violência do cangaço é produzida pela condição de miséria e fome a que se encontrava submetida à população rural e pela própria violência que caracterizava as relações sociais, que estruturadas através do coronelismo e do latifúndio, marginalizavam o sertanejo, excluindo-o dos direitos mais elementares, inclusive do direito à vida. É natural que um movimento social sem definição ideológica, desorganizado e irracional, seja facilmente manipulado, sendo comum presenciarmos bandos de cangaceiros prestando serviços