Cam es e D
As primeiras obras publicadas por Garrett depois da sua iniciação inglesa são Camões (1825) e D. Branca (1826).
Em Camões, com um assunto que inspirara já também um quadro de Sequeira e uma composição musical de Domingos Bontempo, viu Garrett a história de um desterrado, como ele próprio e como tantos liberais seus companheiros, que no regresso assiste às desgraças da pátria e morre com ela, incompreendido e perseguido pela sociedade. Os passos mais vibrantes são a invocação da Saudade, aliás ainda tratada como alegoria mitológica no começo do poema; a paráfrase de um salmo de Job, que a liturgia faz cantar no Oficio dos mortos; e o lamento fúnebre entoado por Camões sobre a sepultura de Natércia. Em todo o poema domina um tom de elegia lutuosa, e são reconhecíveis temas do romantismo europeu, de Rousseau, Byron e outros (bondade natural humana recalcada pela civilização; individualismo insociável; etc.) e outros temas de uma espécie de préromantismo nacional latente (saudosismo; soidão bernardiniana e camoniana; etc.). Mal se pode dizer que no poema decorra uma acção, pois os seus protagonistas, como espectros, quase só monologam. (...)
Costuma datar-se desta obra a introdução do Romantismo em Portugal. Trata-se, com efeito, de um poema narrativo em torno de um herói com algo de byroniano; as descrições conformam-se com o cenário romântico vago e nocturno; as entidades mitológicas são, de maneira geral, abolidas ou nacionalizadas. Mas o verso branco em que está vazado te m sabor arcádico, e multiplicam-se as imitações e decalques d'Os Lusíadas especialmente dos cantos VII e VIII. No prefácio, o autor afirma o seu portuguesismo e declara não ser clássico, nem romântico, repudiando, tanto as regras de Aristóteles e Horácio, como a imitação de Byron, pretendendo apenas e eclecticamente seguir "o coração e os sentimentos da natureza". O Camões vive de luz emprestada e de algumas expansões elegíacas, e revela em Garrett sobretudo um apreciável