Cadastro
O primeiro, enraizado na tradição da Civitas romana e no seu ideal de “representação”, realiza-se historicamente nos tempos modernos durante o revolucionário seiscentos inglês, tendo sua paternidade filosófica clara em John Locke. Então, as liberdades do indivíduo, entre as quais aquela fundamental de ter propriedade, não podiam mais ter sua privacidade invadida pelo Leviatã estatal.
O segundo, originário da vida política da Pólis grega e da sua prática de “participação”, nasce como que colado ao primeiro, parecendo ser uma espécie de reação natural ao individualismo liberal. Só que seu processo de maturação se daria de uma forma mais lenta, sempre reprimido pelo seu irmão gêmeo bastardo. Foram necessários aproximadamente duzentos anos para que a luta por igualdade social, por uma sociedade fundada nos interesses comuns da coletividade - a luta dos radicais ingleses que objetivavam virar o mundo de ponta-cabeça em meio à Revolução Inglesa de 1640 e dos jacobinos franceses influenciados pelas concepções de democracia radical de Rousseau durante a Revolução Francesa de 1789 - se cristalizasse teoricamente nas páginas escritas no século 19 por Karl Marx. Neste momento, o Estado continua a ser severamente criticado, mas já não mais em prol de uma individualidade possessiva, mas sim em defesa da autogestão organizada dos trabalhadores.
A partir deste instante histórico, as reflexões teóricas assim como as intervenções práticas no campo da política girariam em torno de rígidas dicotomias, que não admitiam qualquer espécie de interação intersubjetiva: indivíduo vs. coletivo; liberdade vs. igualdade;