Brasil
O que sobrou de tudo isso foi o "populacho", a "ralé", a "malta"e tantas outras formas pelas quais as ideologias dominantes tentaram dar conta daqueles "resíduos sociais"que, na bipolaridade de classes da sociedade escravocrata não cabiam nem entre os senhores, nem entre os escravos.
É sobre estes "resíduos sociais"que Lúcio Kowarick se debruça em seu Trabalho e Vadiagem - A origem do trabalho livre no Brasil. Versão destinada ao grande público de trabalhos acadêmicos realizados aqui e no exterior (incluindo sua tese de livre-docência), o livro busca captar no curso da história social brasileira aquilo que a sociologia dos anos 60/70 estudou sob o conceito de "marginalidade".
O propósito sem dúvida é ambicioso, tendo em vista o amplo período compreendido. Kowarick percorre-o no entanto com segurança ainda que os especialistas pudessem exigir aqui e ali maior profundidade.
Não se lhe negará, porém, familiaridade com a historiografia do período que ele utiliza para desmontar uma série de idées-reçues a partir das quais se tratou de dar conta dos complexos fenômenos sociais advindos da transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Brasil.
Desta crítica historiográfica emerge uma tese central do livro: as distintas configurações do fenômeno social aludido pela expressão "marginalidade", não são mais do que o resultado das metamorfoses do capitalismo brasileiro desde o período colonial até os pródromos da industrialização, onde a análise se interrompe.