Bras Lia
Inspirada na Carta de Atenas, um manifesto urbanístico de 1933, que preconizava a cidade como um organismo planejado centralmente e que gira em torno do atendimento das necessidades do ser humano, surgiu a nossa cidade. Seguindo os paradigmas da carta, Brasília foi concebida como uma cidade-jardim cuja propriedade do solo é um bem público.
O elemento “ousadia”, que permeou o desenvolvimento de um projeto dessa envergadura, já está inscrito na história e não cabe contestá-lo. A inovação, representada pela sua arquitetura diferenciada e pelo seu planejamento urbano, teve o reconhecimento internacional. Conquistamos o status de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. Entretanto, o cuidado necessário para preservar as suas características mais marcantes não tem sido suficiente no processo de gestão da cidade. Por isso, Brasília sofre com a deterioração de seu projeto urbanístico. Seus habitantes também.
O elemento mais preocupante, dramático e sem uma adequada abordagem, tem a ver com o ser humano, com a busca da igualdade. Brasília pode ser considerada atualmente, segundo os dados disponíveis, como a capital brasileira da desigualdade. Em que pese termos o mais elevado PIB per capita do país, acima de São Paulo (2º. Lugar), somos também o primeiro lugar na distância entre ricos e pobres (índice de GINI). É revelador constatar que Brasília possui a segunda maior favela do país, a Sol Nascente, atrás apenas da Rocinha, no Rio.
Os aspectos urbanos, ambientais e humanos devem ser reconciliados urgentemente. É preciso, portanto, revisitar os princípios da Carta de Atenas e contextualizá-los para os desafios da Brasília deste século, tendo em vista um futuro diferente, mais justo e sustentável.