Bota Abaixo
CAPÍTULO SEIS
CLIENTELISMO ELEITORAL E
CORONELISMO POLÍTICO
ESTUDO DE UM PEQUENO MUNICÍPIO PARANAENSE
Alessandro Cavassin Alves
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6. CLIENTELISMO ELEITORAL E
CORONELISMO POLÍTICO:
Estudo de um pequeno município paranaense1
I. INTRODUÇÃO
Este estudo refere-se ao processo político-eleitoral no pequeno município de
Itaperuçu, no Paraná, no período de 1992 a 2002. Ao observarmos a prática corrente da política local, procuramos entender o seu funcionamento e o seu significado.
Revisando a literatura sobre a política em pequenos municípios, destacamos desde o início o clássico estudo de Victor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto – O município e o regime representativo no Brasil, publicado pela primeira vez em 1949.
Nesse estudo, Leal busca entender o funcionamento da política no interior do Brasil, na época da República Velha brasileira (1889-1930). Aí se encontra a definição mais clássica do fenômeno do “coronelismo”, atrelado a uma estrutura agrária latifundiária.
A leitura desse ensaio e, posteriormente, as observações e análises de dados levantados na cidade de Itaperuçu apresentaram semelhanças interessantes. Como poderia uma antiga forma de dominação política persistir até os dias de hoje?
Ao aprofundar a literatura sobre o assunto, deparamo-nos com a variação do uso e do sentido do conceito de “coronelismo” ao longo da história brasileira. Muitos autores consideram extinto tal fenômeno2, enquanto outros buscam associá-lo às modernas estruturas de dominação no Brasil3. Sabemos que o clientelismo é uma estrutura que atravessa a história brasileira (NUNES, 1999); portanto, é tão antiga quanto o
“coronelismo”, ou mais. Porém, são práticas políticas distintas: a primeira refere-se ao poder de mando de um chefe político em uma determinada localidade e sua barganha com o governo estadual e federal; a segunda é uma estrutura que envolve um tipo de relação entre atores políticos que trocam benefícios por apoio