Bola amarela
É postulando essas idéias que nesse ensaio tenho a intenção de contribuir para uma leitura crítica da obra “A Bolsa Amarela” de Lygia Bojunga Nunes.
A Bolsa Amarela é tecida em episódios que apresentam uma menina em pleno processo de formação de identidade e em grandes dificuldades impostas pelo esquema de dominação familiar, grupal e institucional. Entretanto, valorizando o mundo infantil, a autora estimula a imaginação criadora e a criatividade, que são desenvolvidas através da palavra escrita, na conquista do conhecimento do mundo. Nesse sentido, a trama infantil ganha o caráter de literatura lúdica (de puro entretenimento), sendo também um instrumento de reflexão e crítica. Por meio da narrativa, o leitor vai acompanhando o processo de crescimento da personagem Raquel, uma criança inteligente que vive grandes aventuras na busca de uma identidade própria. Um dos instrumentos pelo qual o leitor pode acompanhar o desenvolvimento do processo é a bolsa amarela.
“Eu tenho que achar um lugar pra esconder as minhas vontades. Não digo vontade magra, pequenininha, que nem tomar sorvete a toda hora, dar sumiço da aula de matemática, comprar um sapato novo que eu não agüento mais o meu. Vontade assim todo o mundo pode ver, não tô ligando a mínima. Mas as outras _ as três que eu não quero mais mostrar. De jeito nenhum”.1
Ora, a bolsa chega na casa de Raquel e obtém uma nova dona exatamente por ter sido rejeitada pelos demais personagens (irmãos e pais de