Boileau e a preocupação com o papel civilizador da arte.
Nicolas Boileau-Despréaux, em sua Arte Poética, apresenta, de forma sucinta, o sistema de regras literárias do classicismo em voga na França no século XVII. Defensor da estética greco-romana, Boileau se refere à estética clássica como o único estilo que, pelo bom gosto, deve ser imitado. As condições necessárias à poesia, segundo esse autor, localizam a arte na valorização do racional. A moderação, o bom senso, a adequação, a clareza serão alcançadas se o poeta se submeter ao gênio da lógica.
Na tentativa de estabelecer os preceitos fundamentais do bem escrever, Boileau, em boa parte de A Arte Poética, parafrasea o que anteriormente já havia escrito Horácio. Assim como o filósofo romano, Boileau inicia dando conselhos a um escritor, concluindo, entre outras questões, que saberá escrever quem for conciso. Para ele, a arte deve ser fundamentada na técnica e não na livre criação e postula que a moderação e o comedimento são mais importantes para a qualidade do poema que a originalidade. Também recorre a Horacio quando afirma que somente deve-se recorrer a novos temas quando o escritor possui talento para fazê-lo.
Além destas características, Boileau segue a máxima de certa forma presente na obra do filósofo grego Aristóteles: a missão civilizatória da poesia. O escritor francês disserta sobre isso mais detidamente no quarto canto de sua obra. Para ele, a arte poética salvou o homem do comportamento selvagem que possuía. A razão, através das obras literárias, ensinou leis aos homens, e fez com que surgisse a noção de sociedade. Os preceitos morais, as lições práticas e as demais mensagens de autores clássicos apenas foram possíveis de ser transmitidos a partir da expressão dos versos; desta forma é que entraram no coração dos mortais.
Esta afirmação vai de encontro ao que postulou Platão. O