biopolitica
Notas sobre a crítica do sujeito entre Foucault e Deleuze
Miguel Ângelo Ensaios Críticos
A sociedade na qual estamos mergulhados apresenta-nos uma grande problemática: a formação do indivíduo mediante os infinitos procedimentos de sujeição. Este problema pode ser abordado de várias formas e por várias teorias, mas torna-se urgente uma análise a partir dos dispositivos de poder-saber na sua relação com a questão da verdade. Em outras palavras, a constituição social do indivíduo, a partir da construção de verdades, seja pelo mesmo ou pelo outro, traz em seu bojo o jogo de forças do exercício do poder, e é a análise deste exercício que se apresenta como uma tarefa político-histórica necessária em nossa sociedade atual. Foucault, em sua genealogia do poder desde os anos 70, nos legou um belo trabalho nesse sentido. O estudo da relação da verdade com o poder permitiu-lhe diagnosticar, historicamente, os contornos do que chamou de sociedade disciplinar, para além da sociedade de soberania, caracterizando suas técnicas e desenvolvendo dois conceitos que se cruzam: o de anátomo-política e o de biopolítica ou biopoder — fundamentais para o entendimento de uma disciplinarização dos corpos em prol de uma economia da verdade.
Aqui temos: poder, sujeição, confinamento, disciplina e verdade. A crítica do sujeito, já em prática desde o anti-humanismo de Foucault dos anos 60, no fundo, é uma crítica do poder na sua relação com a verdade. Em uma aula do curso Em defesa da Sociedade, ele explicita: “Não há exercício do poder sem uma certa economia dos discursos de verdade que funcionam nesse poder, a partir e através dele. Somos submetidos à produção da verdade e só podemos exercer o poder mediante a produção da verdade.” [1] (Foucault, 2000, p. 28-29). Tendo isso em mente, podemos perguntar: como se desenrolaria tal crítica mediante o modelo social no qual estamos inseridos hoje? Para Foucault, o foco de análise histórica são as