biomar
Prof. Dr. José Guilherme Cantor Magnani
Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo
Introdução
“As chamadas cidades históricas não são apenas cenários de antigos acontecimentos e que ainda conservam, no traçado e casario, as marcas da época; é preciso reconhecer que a vida, aí, continua. As relações entre os atuais atores com esses cenários, contudo, nem sempre são levadas na devida conta pelos órgãos de preservação. Esta omissão pode ser percebida em algumas premissas que orientam a prática preservacionista. A primeira é a suposição de que os critérios com os quais se selecionam e classificam os bens culturais são universais e que são compartilhados de forma homogênea por todos os usuários. A outra é considerar estes últimos como meros obstáculos à preservação já que na maior parte das vezes a relação usuários/ órgãos preservacionistas é conflitante, seja no que diz respeito aos critérios de escolha, seja com respeito à intervenção do Estado através do mecanismo de tombamento”.
Assim começava o relatório final de um projeto intitulado “Santana de Parnaíba: memória e cotidiano” que coordenei como parte de uma consultoria prestada ao
CONDEPHAAT,
(Conselho
de
Defesa
do
Patrimônio
Histórico,
Artístico,
Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), em 1984 1. Cidade pequena, Santana de Parnaíba contava com um acervo arquitetônico de interesse, sob proteção de tombamento em nível estadual e federal 2 , mas apresentava
problemas de
relacionamento com os técnicos do órgão, oferecendo dificuldades para a fiscalização e implementação de algumas medidas previstas pelas políticas de preservação. Para
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O texto que segue é uma parte, reelaborada, desse relatório; da pesquisa de campo, por mim coordenada, participaram Naira I. M. Morgado, Carmen Lúcia M. V. de Oliveira, Celina Kuniyosh e da elaboração do relatório participaram Naira I. M. Morgado e Carmen Lúcia