Em “Bicho de Sete Cabeças”, a cineasta Laís Bondanky narra um conflito geracional nas relações entre pai e filho, que deságua em um conflito institucional relacionado com o sistema manicomial brasileiro. A trama do filme desenvolve-se no seio de uma família de classe média baixa, onde o Wilson é o patriarca tradicional, conservador e intransigente no estilo linha. Seu filho, Neto, é o jovem rebelde, um rapaz comum, que dialoga pouco com os pais, anda de skate, arrisca-se praticando sexo sem preservativo, costuma sair com os amigos sem avisar em casa e usa maconha ocasionalmente. O pai encontra por acaso um cigarro de maconha na mochila do filho, o que ocasiona um terrível drama familiar com a iniciativa do pai de internar Neto em um manicômio. O internamento ocorre sem o consentimento do filho, o que traumatiza o jovem violentado e vitimado por um asilamento que nada oferece em termos de cura, de estímulo para a mente ou para o corpo. O pai, bem-intencionado, acredita que o filho (dentro de uma instituição teoricamente recomendável) será curado mediante os supostos avanços da medicina. Neste aspecto, os apelos do filho para que o libertem de um tratamento cruel, submetido a eletrochoques, passam a ser traduzidos como estratégia de um viciado com ânsias de voltar ao uso das drogas. Assim, o filme enfoca em primeiro lugar, a falta de diálogo entre pai e filho que, envolve também a omissão da mãe, figura apagada e silenciosa. É oportuno ressaltar que o discurso do pai reproduz o discurso da autoridade e institucional da normalização. Logo, a severidade do pai não propiciou que Neto buscasse apoio psicológico ambulatorial, familiar e social através de uma medicina que privilegiasse a escuta. Eis o filme abordando a falibilidade do discurso manicomial brasileiro, diferentemente do que é apregoado. Em verdade, Bodansky, inspirada no livro “Canto dos Malditos”, de Austragésilo Carrano Bueno, elabora uma denúncia anti-manicomial ao revelar os