Bergson: o brilho eterno de uma mente sem lembrança
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
Bergson: O brilho eterno de uma mente sem lembrança. [1]
Claudia Silene Pereira de Oliveira
São Carlos
2007
Introdução
"Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos". Nietzsche
Recuperando os conceitos de imagem, percepção, lembrança e duração traçados em Matéria e Memória por Henri Bergson, tem-se o objetivo de buscar indícios do pensamento bergsoniano e introduzi-los no filme “Brilho eterno de uma mente sem lembrança” (2004), do roteirista Charlie Kaufman[2] que leu a frase de Nietzsche e um poema de Alexander Pope e deles escreveu um filme. A questão em torno da memória é tema recorrente na história do cinema. Cidadão Kane (1941), de Orson Welles, O ano passado em Marienbad (1961), de Alain Resnais, são alguns exemplos clássicos onde a memória é extensivamente atribuída a lógica da existência como possibilidade de um eu absoluto calcado no terreno central e, sobretudo, nebuloso e escorregadio. Na atualidade, podemos mencionar alguns dos mais significativos: os filmes “Amnésia”, de Cristopher Nolan (2001), “Spider”, de David Cronenberg (2002), “O homem sem passado”, de Aki Kaurismäki (2002) e, em 2004, “Os esquecidos”, de Joseph Ruben. Em suma, são filmes que tentam estabelecer um vínculo essencial entre o lembrar e o ser, o acontecido e o atual, entre o passado e presente. De acordo com Bergson, “Os objetos que cercam meu corpo refletem a ação possível de meu corpo sobre eles” (Bergson, 1990, p. 12). Em Brilho eterno, as funções são observadas a partir de um corpo como também suas potencialidades em relação às imagens que lhe são exteriores e a memória é apresentada como agente possível na criação de subjetividade. Tal fator representa muito mais do que uma