Sabedoria e ilusões da filosofia
SABEDORIA E ILUSÕES DA FILOSOFIA
Tradução de Zilde Abujemra Decir
" Traduzido do original francês Sagesse et illusions de la philosophie, Paris, Presses Universitaires de France. 1969.
Introdução
Dizer que esta obra se me impôs como um dever seria pretensioso, mas o foi, pelo menos, em virtude de uma exigência cada vez mais constrangedora. Sua tese é simples e, em certos meios, banal: a de que filosofia, de acordo com o grande nome que recebeu, constitui uma "sabedoria" indispensável aos seres racionais para coordenar as diversas atividades do homem, mas que não atinge um saber propriamente dito, provido das garantias e dos modos de controle que caracterizam o que se denomina "conhecimento". Mas se vivi confortavelmente com tal crença, como todos os que permanecem à margem da filosofia, mesmo sendo seduzidos por ela, pareceu-me que se tornava necessário justificar explicitamente e mesmo proclamar essa tese, em vista dos abusos cotidianos aos quais seu não reconhecimento conduz. No término de uma carreira de psicólogo e de epistemologista, durante a qual mantive as melhores relações com os filósofos que me honraram muitas vezes com uma amizade e confiança cujo alto preço bem conheço,' vivi quase dia após dia os conflitos que retardam o desenvolvimento de disciplinas que pretendem ser científicas. Cheguei à convicção de que, sob o conjunto extremamente complexo de fatores individuais ou coletivos, universitários ou ideológicos, epistemológicos ou morais, históricos ou atuais, etc., que intervêm em cada um desses conflitos, se reencontra em definitivo sempre o mesmo problema e sob formas que me parecem decorrer da simples honestidade intelectual: em que condições se tem o direito de falar de conhecimento e como salvaguardá-lo contra os perigos interiores e exteriores que não cessam de ameaçá-lo? Ora. quer se trate de tentações interiores ou de coações sociais de toda espécie, esses perigos perfilam-se todos em torno de uma mesma fronteira.