beira rio
Sete da manhã, e o trabalho principiando no campo. O apontador chegava ainda com escuro, porque não conseguia dormir na casinha de pau-a-pique onde ele, mulher e filhos viviam como que em depósito, à espera de vaga na vila proletária. Os mosquitos resistiam a tudo, e o fio de som que emitiam no voo lento, indo e vindo, tecia sobre a cama uma espécie de cortinado. A mão, levantando-se, dilacerava a trama, que contudo logo se recompunha, e tão constante no seu dom de irritar, que, se por acaso cessasse um momento, o silêncio feria por sua vez, inesperado. Então o apontador ia acordar o balseiro, e os dois, cortando o rio, presenciavam calados o nascimento do sol, que do campo em ruínas, na outra margem, ia tirando pouco a pouco uma usina em construção.
O dia de trabalho espichava-se por oito horas legais e mais duas de prorrogação, sem pagamento. A Companhia tinha pressa na execução do programa. Como não restassem trabalhadores a recrutar, na região, exigia-se de todos um esforço maior. Quanto à remuneração desse suplemento de serviço, falava-se que iria formando um bolo para o operário receber, acabada a obra, ou quando se retirasse. Falava-se. Mas ninguém sabia nada ao certo. E fiscal do Ministério do Trabalho, naquelas brenhas... você viu?
Na barranca do rio, do lado de Capitão, caboclos macilentos, meio curvados, esperam a balsa. Ela voga a manhã inteira, transportando material e gente. Os homens parecem cansados antes de começar a lida. Os técnicos chegam mais tarde, e é como se para eles não houvesse mosquitos; americanos louros e bem dormidos, que construíram suas casas entre jardins, ou que saem do hotel com ar tranquilo.
Curiosa vila de