batata
DE TINTA
CORNELIA FUNKE
Tradução
Sonali Bertuol
Para Anna, que até mesmo deixou de lado
O senhor dos anéis para ler este livro.
(O que mais se pode querer de uma filha?)
E para Elinor, que me emprestou seu nome, embora eu não precisasse dele para uma rainha élfica.
Veio, veio.
Veio uma palavra, veio, veio na noite, quis brilhar, quis brilhar.
Cinzas.
Cinzas, cinzas.
Noite.
Paul Celan, Estreto
1. Um estranho na noite
A lua brilhava no olho do cavalinho de balanço, e também no olho do ratinho, quando Tolly o tirava de sob o travesseiro para admirá-lo. O relógio fazia tiquetaque e, no meio do silêncio, ele pensou ouvir o som de pezinhos nus correndo pelo chão, depois risadas e cochichos, e então um ruído como se alguém estivesse folheando as páginas de um grande livro.
Lucy M. Boston, As crianças de Green Knowe
Chovia naquela noite, uma chuvinha fina e murmurante. Ainda depois de muitos anos, bastava
Meggie fechar os olhos e ela podia ouvi-la novamente, como se minúsculos dedinhos estivessem batendo em sua janela. Um cão latia em algum lugar na escuridão e, por mais que se virasse de um lado para o outro, Meggie não conseguia dormir.
O livro que ela começara a ler estava debaixo do travesseiro. Cutucava o ouvido dela com a ponta da capa, como se quisesse chamá-la de volta para suas páginas. “Oh, deve ser mesmo muito confortável dormir com uma coisa dura e pontuda debaixo da cabeça”, dissera seu pai na primeira vez em que encontrara um volume sob o travesseiro dela. “Confesse, à noite ele sussurra histórias no seu ouvido.” “Às vezes, sim!”, respondera Meggie. “Mas só funciona com crianças.” Em troca, Mo lhe dera um beliscão no nariz. Mo. Meggie nunca chamara o pai de outra maneira.
Naquela noite, em que tanta coisa começou e tanta coisa mudou para sempre, um dos livros preferidos de Meggie estava debaixo de seu travesseiro. Como a chuva não a deixava dormir, ela se sentou, esfregou os olhos e pegou o