Axiologia
1º. Os valores não são coisas. Não podem perceber-se como se percebem as coisas. A análise teorética de uma coisa qualquer chegará ao seu termo sem haver deparado com o valor. Portanto, o modo de perceber os valores não consiste em os vermos com os olhos da cara – o que não obsta a que os valores sejam tão clara e autenticamente vividos por nós como as coisas e os objectos matemáticos. Quando dizemos que duas coisas são iguais, vemos as duas coisas, mas não vemos a igualdade.
A igualdade é percebida por outra intuição diversa da intuição sensível com que percebemos as duas coisas; do mesmo modo, quando vemos uma criança a torturar um gato temos a intuição sensível da criança e do gato, mas além disso intuímos também a crueldade, que não é uma realidade, mas um valor negativo. Quando lemos a cena em que Augusto perdoa a Cina percebemos o valor da magnanimidade; quando acompanhamos o movimento ritmado com que a bailarina faz ondular o corpo, percebemos, além disso, nesse movimento e sobre esse movimento, o valor beleza, ou o valor graça, ou o valor elegância. Os valores, pois, são qualidades que as coisas têm, mas que não estão nas coisas de modo real e sensível, como estão a figura, o peso, a cor, etc. Casimiro Amado, Axiologia Educacional – Textos para acompanhamento das aulas,
Universidade de Évora, 20062º. O ser dos valores não é, portanto, o mesmo ser que o da realidade.
Uma ontologia rigorosa discerne vários modos de ser; um deles é o ser sensível, outro o ser ideal, (como, por exemplo, o dos objectos matemáticos) e um terceiro modo de ser é o valer, e é este que precisamente corresponde aos valores. Em sentido próprio, pois, os valores não existem (realidade sensível), nem são (realidade ideal), mas valem. Por isso, como veremos, cumpre reconhecê-los e, não obstante, não desejá-los.
3º. Correspondendo a este seu tipo ontológico, que é o puro valer, os valores não são conhecidos, como são conhecidas as