Auto da compadecida
JOÃO GRILO, suspirando. Tudo o que é vivo morre. Está aí uma coisa que eu não sabia! Bonito, Chicó, onde foi que você ouviu isso? De sua cabeça é que não saiu, que eu sei.
CHICÓ Saiu mesmo não, João. Isso eu ouvi um padre dizer uma vez.
CHICÓ Mas deixe de agonia, que o povo vem aí. MULHER, entrando. Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai,ai,ai! JOÃO GRILO, mesmo tom Ai, ai, ai, ai, ai! Ai, ai, ai, ai, ai! Dá uma cotovelada em CHICÓ. CHICÓ, obediente Ai, ai, ai, ai, ai, Ai, ai, ai, ai, ai! Essa lamentação deve ser um mal entendido a representada de propósito, ritmada como choro de palhaço de circo. PADRE, entrando com o padeiro
Que é isso, que é isso? Que barulho é esse na porta da casa de Deus? PADRE Todos devem se resignar.
MULHER
Se o senhor tivesse benzido o bichinho, a essas horas ele ainda estava vivo.
PADRE
Qual, qual, quem sou eu!
MULHER
Mas tem uma coisa, agora o senhor enterra o cachorro.
PADRE
Enterro o cachorro? MULHER Enterra e tem que ser em latim. De outro jeito não serve, não é?
PADEIRO
É, em latim não serve.
MULHER
Em latim é que serve!
PADEIRO
É, em latim é que serve!
PADRE
Vocês estão loucos! Não enterro de jeito nenhum. MULHER
Acabaram os benefícios então! Me passe essa Baguete aqui, amor!
Mulher pega a baguete e bate uma vez a cada resposta “Não enterro” do Padre.
PADRE
Não enterro.
PADEIRO
Acabaram os benefícios!
PADRE