Aula 01 O Que Literatura
O conceito de literatura vem sendo discutido ao longo de toda a história da arte literária. De fato, para nós, herdeiros do legado grego, a tentativa de definição do termo vem desde a Grécia Antiga: Platão e seu discípulo Aristóteles já discordavam no que diz respeito à natureza da arte poética. Para os dois a “poesia” (e, por generalização, a arte literária) era imitação, mimese, ou seja, representação de algo da realidade concreta. No entanto, para Platão, a poesia era imitação da imitação, uma vez que a realidade concreta era uma representação do mundo das ideias. Por isso, a arte poética teria um valor negativo. Já para Aristóteles a poesia, ao imitar algo da realidade, revela o que é universal no ser humano, e este se reconhece e sente prazer ao reconhecer-se na obra; ou seja, Aristóteles conferia à poesia um valor positivo.
Os textos de Platão e Aristóteles foram lidos de diferentes formas e geraram diferentes conclusões. Além disso, devido à pluralidade de textos “literários” que surgiram ao longo da história, a tentativa de definição de literatura só gerou novas discussões. Não nos cabe resolver este problema aqui, mas, ao contrário, mostrar o quão diverso é este assunto. O texto literário, seja lá o que isso significa, permite um sem-número de visões acerca dele, e é justamente aí que reside a graça de lê-los e interpretá-los.
Engana-se, porém, quem acha que pode falar tudo o que quer sobre o texto literário. É necessário, para quem pretende debruçar-se sobre uma obra de arte literária, partir dos elementos essenciais para sua existência. E o que é essencial? Como vai dizer o poeta Carlos Drummond de Andrade, a palavra é o elemento fundamental desta arte:
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero.
Há calma e frescura na superfície intata. (...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra