Até onde vai a onda rosa
| n.2, fev. 2010 |
Observatório Político Sul-Americano
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro IUPERJ/UCAM http://observatorio.iuperj.br Até onde vai a “onda rosa”?
Análise de Conjuntura (n.2, fev. 2010)
ISSN 1809-8924
Fabricio Pereira da Silva
Doutor em Ciência Política pelo IUPERJ
A política latino-americana foi marcada na última década pela ascensão de partidos, movimentos e lideranças de esquerda a governos nacionais. Tal ascensão, por sua relativa sincronia e delimitação regional, constitui em si mesma um processo sócio-político único, que pode ser compreendido em seu conjunto (uma
“vaga” de esquerda a percorrer a região), com diversas características coincidentes
– mas com suas especificidades locais. O fenômeno foi chamado de “onda rosa” latino-americana, ou expressões semelhantes (conferir, por exemplo, Panizza,
2006, que fala em “maré rosa”). A evidente inspiração vinha da ascensão de partidos de centro-esquerda europeus ao poder na segunda metade dos anos 1990, nomeada por analistas da mesma maneira. Se o fenômeno latino-americano, num olhar mais apurado, não guarda tanta relação com o europeu, devendo ser compreendido por si mesmo, ao menos a expressão pode ser aproveitada.
No entanto, para além da forma como o fenômeno pode ser chamado, o que deve ser destacado é seu ineditismo, que deriva tanto do número elevado de países nos quais se deu, quanto do fato dele ter se manifestado através de vitórias eleitorais. Seria desnecessário e exaustivo recordar as inúmeras convulsões sociais que assolaram a América Latina ao longo do último século em nome das esquerdas ou do combate dado a elas. Seria igualmente desnecessário e exaustivo descrever as dificuldades das esquerdas de se integrarem aos sistemas políticos e à disputa democrática. Dito em poucas palavras, tratava-se até então de uma dificuldade das esquerdas latino-americanas em serem aceitas pelas frágeis democracias da