Aspectos da epistemologia
Todas as actividades humanas são reflexivas, no sentido em que quem as pratica tem alguma noção de como o faz e dos seus objectivos.
Na actividade científica, pela sua própria natureza racional, essa reflexividade constitui uma exigência.
Julgo ter sido Louis Althusser quem propôs a distinção entre a filosofia diurna dos cientistas — aquela que acompanhava a prática quotidiana da investigação
— da filosofia nocturna, em que esses produtores de conhecimento faziam uma reflexão de segundo grau sobre o significado da sua actividade profissional. E atribuía maior lucidez à reflexão diurna do que à nocturna, já que é a primeira que constitui expressão directa do “ofício”, do conjunto das aprendizagens e dos procedimentos teórico-práticos da profissão.
A epistemologia moderna passou a consistir numa reflexão sistemática sobre as condições e as implicações do trabalho científico, sobre as suas formas e os seus momentos. Interessa-se mais pelo saber que — um saber proposicional — do que pelo saber como, que constitui a reflexão básica da “filosofia diurna” dos cientistas.
Ou seja, dito de outra maneira, interessa-se mais pela razão teórica do que pela razão prática.
A filosofia era o lugar clássico de todo o pensamento sobre o conhecimento.
Três questões principais dominavam esse pensamento. A questão dita gnoseológica interrogava a natureza do conhecimento. A questão metodológica dirigia-se à produção desse conhecimento e às suas condições. E finalmente punha-se o problema, porventura o mais complexo, da justificação.
Platão afirmava que o conhecimento era o subconjunto do que simultaneamente é verdade e em que se acredita. A crença, de natureza proposicional, tem de corresponder à verdade, mas também ser baseada na evidência ou na razão, isto é, ser demonstrada.
Platão, ele próprio, não aceitava, na definição do conhecimento, este último ponto referente à justificação, porque,