Epistemologia
Há um problema terminológico que precisa de esclarecimento. Apesar ser comum usar-se o termo "epistemologia" como sinónimo de "teoria do conhecimento" (o que está de acordo com a etimologia do termo), alguns autores usam o termo "epistemologia" para referir a filosofia da ciência. O objectivo destas linhas é explicar por que razão esta última opção é desaconselhável.
A ideia de que a epistemologia estuda o mesmo do que a filosofia da ciência resulta de uma confusão. Apesar de ser verdade que a filosofia da ciência se ocupa em parte da teoria do conhecimento científico — ou seja, da epistemologia da ciência — e apesar de ser verdade que a epistemologia estuda em parte o conhecimento científico, daqui não se segue que o objecto de estudo da epistemologia se esgote na epistemologia da ciência, nem se segue que o objecto de estudo da filosofia da ciência se esgote na epistemologia da ciência. Efectivamente, a filosofia da ciência ocupa-se tanto da epistemologia da ciência quanto da metafísica e da lógica da ciência. Os debates sobre a natureza das entidades teóricas, por exemplo, em que os filósofos se dividem entre instrumentalistas e realistas, são debates sobre a metafísica da ciência. E os debates sobre a subdeterminação das teorias científicas relativamente aos factos são debates sobre a lógica das teorias da ciência. Por outro lado, a epistemologia ocupa-se de muitos outros temas além da teoria do conhecimento científico. A epistemologia estuda o conhecimento e a crença em geral, e não apenas o conhecimento e a crença científicos, e também manifestações particulares de conhecimento ou crença, como é o caso da epistemologia da religião. De modo que a epistemologia e a filosofia da ciência têm objectos de estudo diferentes, que só por vezes coincidem.
Por outro lado, se adoptarmos a convenção de usar "epistemologia" como sinónimo de "teoria do conhecimento científico", empobrecemos a nossa linguagem e perdemos poder expressivo. Como falaremos,