AS PROPRIEDADES ESSENCIAIS DA LINGUAGEM
(Confluência, nº 25 e 26 , Rio de Janeiro: Liceu Literário Português/Instituto de Língua Portuguesa, 2003, p. 36-54, ISSN 1415-1403) Luiz M. M. de Barros
Terezinha Bittencourt
Para Coseriu1, a linguagem, essencialmente apresenta, cinco características universais: criatividade, semanticidade, alteridade, materialidade e historicidade. Trata-se de características lingüísticas racionalmente necessárias, isto é, propriedades que são para a inteligência indispensáveis a todos os atos de fala, presentes, passados ou futuros. Isto quer dizer que a atividade verbal é sempre criativa, semântica, intersubjetiva, empírica e histórica. Das cinco características apontadas, Coseriu classifica as três primeiras como primitivas ou primárias; as outras duas, a materialidade e a historicidade, ele considera como determinações derivadas ou secundárias.
1. Criatividade
A criatividade humana pode ser definida como a infinita capacidade de fazer coisas novas ou renovadas. A criatividade é, portanto, um modo de fazer: “creari est quoddam fieri”, já diziam os filósofos medievais, repetindo um pensamento dos antigos gregos. E todo modo de fazer é um agir produtivo, um agir que quando termina deixa um resultado, um produto, deixa algo feito. O produto concreto da atividade verbal é justamente o que se conhece pelo nome de texto.
A criatura humana assumiu como traço essencial e definitório de sua espécie a função de criador. Trata-se de um ser que tudo muda, que tudo altera: transforma a realidade circundante, como transforma a si mesmo. Inquieto e atormentado por forças instintivas e por uma curiosidade edênica, o homem jamais se contentou com a obra divina, nunca aceitou o mundo tal como lhe foi dado. Por isso mesmo, busca a todo instante modificar o real, tratando as coisas já existentes como simples matéria-prima, a que atribui novas e