Ao longo das últimas décadas o debate sobre a crise da família aconteceu pelos efeitos da grande aceitação social do divórcio, do declínio da instituição do casamento e da baixa taxa de fecundidade. Esses acontecimentos tanto indicaram a compreensão de que se delineara o enfraquecimento da família, quanto sugeriram a análise do surgimento de novos modelos familiares. Eles são caracterizados, por sua vez, pelas mudanças nas relações entre os sexos e as gerações, tais como: controle mais intenso da natalidade, autonomia relativa da sexualidade referente à esfera conjugal, demasiada inserção da mulher no mercado de trabalho, questionamento da autoridade do pai, atenção ao desenvolvimento das necessidades infantis e dos idosos, entre outras. François de Singly (1948), em Sociologia da família contemporânea (2007), aborda a individualização das relações familiares, especificamente na França, estabelecendo associações entre as mudanças da modernidade e seus efeitos na família. O autor, em suas pesquisas, focaliza os comportamentos interpessoais no âmbito conjugal, procurando demonstrar que, nas sociedades contemporâneas ocidentais, os indivíduos não se parecem com aqueles das gerações precedentes, devido ao surgimento do indivíduo original e autônomo, resultante da imposição dessas sociedades, as quais fazem vigorar razões tanto ideológicas quanto objetivas. Mostra que a procura de si não traduz, narcisismo; solicita, contrariamente, destaque do olhar dos outros. Considera a dimensão relacional presente no processo constitutivo da identidade pessoal dos indivíduos, em que os outros significativos são, em geral, o cônjuge ou o parceiro para um homem ou uma mulher, os pais para os filhos e reciprocamente. Singly visa esclarecer a família contemporânea, demonstrando sua dependência em relação ao Estado, sua independência quanto aos grupos de parentesco e à família. A família é um espaço no qual os indivíduos acreditam proteger a sua individualidade, ao mesmo