As migrações internas no brasil.
FAUSTO BRITO1
INTRODUÇÃO
O objetivo deste ensaio2 é refletir sobre as migrações internas no Brasil recente. A complexidade do tema não possibilita uma tarefa simples. São apenas alguns passos em um caminho nada trivial, quando as perguntas podem, a princípio, se sobreporem às conclusões. Mas, aí está o desafio: quando não se têm respostas pré-determinadas, as perguntas suscitadas no movimento de compreensão da realidade constituem um roteiro para a reflexão teórica. Seria, então, mais realista dizer que o objetivo deste ensaio é constituir-se num roteiro para progredir nesse difícil caminho de compreender a mobilidade espacial da população no contexto atual da sociedade brasileira. A produção intelectual sobre as migrações internas no Brasil, ou sobre a mobilidade espacial da população, de uma maneira geral, tem sido extensa e rica em informações. Há uma grande predominância de textos empíricos, que se multiplicam com a grande disponibilidade de dados disponíveis. Esses podem ser uma base segura para a reflexão teórica. Sabe-se bem, entretanto, que a mera regularidade empírica não se constitui, necessariamente, numa evidência de causalidade e, muito menos, em teoria. A reflexão, com pretensões à elaboração teórica, requer algo mais de um fenômeno, como as migrações, que não é neutro. Pelo contrário, é um
Professor e pesquisador do Departamento de Demografia e do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq 2 Este ensaio é uma versão revista e ampliada do texto apresentado no Taller CELADE de Migracion Interna, Brasília, 2007: Urbanização, metropolização e mobilidade espacial da população: um breve ensaio além dos números.
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processo social que encerra em si toda a complexidade da sociedade na qual ela está inserida. Pela importância que têm para a sociedade brasileira, as migrações não podem ser compreendidas