As filhas do vento
O filme é de uma sensibilidade impressionante. Apesar de aparentar ter uma narrativa simples e corriqueira, sua mensagem é carregada de significações. Abordando o racismo através do drama de seus personagens, coloca-se em pauta o que normalmente costuma ser velado, um assunto proibido na sociedade brasileira. Por meio da utilização de estereótipos, o diretor Joel Zito busca a desconstrução dos mesmos. Os estereótipos, portanto, quando corretamente abordados podem ajudar a modificar discursos preconceituosos, podem se tornar um incentivo pela busca de novas representações.
Uma abordagem das “imagens positivas” também ignora a questão da perspectiva e do posicionamento social do cineasta e da platéia. Não se pode equacionar a construção do estereótipo vinda “de cima” com a mesma operação vinda “de baixo”, na qual o estereótipo é usado “entre aspas”, reconhecido como estereótipo e utilizado para novos objetivos. (STAM E SHOHAT, Crítica da imagem eurocêntrica, pp. 298)
Desde a produção, passando pelo elenco e pela direção, As filhas do vento, é protagonizado por negros. As protagonistas, todas negras se destacam ao longo da narrativa e buscam a representação de um grupo que é duplamente oprimido, que leva consigo o peso de ser mulher e de ser negra numa sociedade marcada pelo preconceito. A narrativa do filme é construída em duas partes. A primeira parte retrata a adolescência de Maria D’ajuda (Ju) e Maria Aparecida (Cida) no interior de Minas Gerais. Já a segunda parte mostra o desenrolar da vida das protagonistas a partir de um episódio que marca o rompimento do núcleo familiar tradicional dos personagens. Cida sonhava em ser atriz, e assim como sua mãe, que deixou a família para viver como artista de circo, ela sentia na pele as consequências da sua escolha. Como buscava uma vida que fugia dos padrões impostos por sua família, era vista como sonhadora, desajuizada e arrogante. Cida era incompreendida, tanto o pai