Seara de Vento
06/06/2013
Manuel da Fonseca, verdadeiro clássico do romance neo-realista português, além de poeta e contista, escreveu o romance Seara de Vento (1958), obra famosa pela apreensão de aspectos da vida dos camponeses no plano da ficção, em que o tratamento da antinomia cidade-campo é bem diverso do uso tradicional. A obra, dentro da estética neo-realista, é ainda notável porque nela o próprio sentimento da morte passa a segundo plano em face de uma realidade social insustentável do ponto de vista humano.
Mas não apenas na temática o Neo-Realismo introduziria inovações na estrutura tradicional do romance. Também no modo de apresentar as personagens, talvez por influência da técnica de montagem cinematográfica, elas se apresentam a si próprias, pelo método implícito ou dramático. Daí encontrar-se a psicologia do comportamento como base da técnica de construção das personagens.
Não é mais o método introspectivo que predomina, mas a observação quase diríamos científicas das formas e variáveis do comportamento humano.
Em Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, dois personagens se impuseram: o vento (antropomorfizado) e Amanda Carrusca, mulher pequena, esquelética, mas indomável na força anímica que desde o inicio evidencia.
Amanda Carrusca tem esse perfil psicológico: a violência do ódio acumulado, a rapidez felina dos movimentos, o olhar faiscante de uma intuição invulgar, tudo se exprimindo numa fragilidade físicainquebrantável.
Esta mulher não tem nada: vive num casebre, trabalhou toda a vida e agora sente-se um “farrapo”, um peso para o resto da família, mas é, malgré tout, uma lutadora. Dir-se-ia que espera a sua morte como quem espera uma libertação mas nem essa lhe deixam aguardar com tranqüilidade pois luta até final porque lutar é para esta mulher um destino. Esta mulher aceita o sofrimento mas não o deseja. Não é para matar(...) que a gente deve unir-se, é para podermos viver.
Aqui, toda a ação se desenrola no Baixo