As esquinas sagradas
O autor inicia esse capítulo do livro Na Metrópole com uma descrição do ambiente religioso instalado na grande cidade de São Paulo, mais precisamente as religiões afro-brasileiras.
“Para os que cruzam as calçadas do viaduto do Chá ou de Santa Efigênia, no centro velho de São Paulo, já não causa nenhum espanto a presença de algumas pessoas oferecendo aos que passam a oportunidade de sondar seu destino (passado, presente ou futuro) através do jogo de búzios. E, observando o adivinho e o seu consulente- sentados nas muretas do viaduto ou em improvisados bancos-, percebe-se que ambos (assim como os espíritos invocados pelo oráculo) não se constrangem em se comunicar em tão adverso cenário: ao lado do barulho intenso das buzinas dos carros, gritos insistentes dos camelôs, fluxo da multidão apressada e, inclusive, sob o ataque severo dos evangélicos, que, com suas bíblias em punho, apregoam o caminho de Cristo como via exclusiva para se chegar a Deus.”
O autor nos mostra que as religiões afro-brasileiras que foram trazidas por imigrantes nordestinos que as praticavam em suas regiões de origem, onde essas religiões tinham raízes mais fortes, já fazem parte do contexto urbano da cidade de São Paulo, e estão sendo inseridas nas diversas formas de expressões culturais e religiosas urbanas, uma realidade diferente de poucas décadas atrás, em que o candomblé e outras religiões com descendência africana eram perseguidas, reprimidas e discriminadas pela sociedade paulista.
Os templos em que se pratica o candomblé, mais comumente conhecidos como “terreiro”, “roça”, “casa-de-santo”, ou pelos termos de origem iorubana: ilê, abassá, axé ou egbé, geralmente se confundem com as residências urbanas, por não possuírem uma arquitetura singularmente identificável como de templos de outras religiões, em que igrejas são facilmente distinguidas de residências. A distinção dos templos do candomblé se dá por placas e pequenos detalhes específicos da religião em