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Carlos Newton Júnior Qualquer pessoa que tenha frequentado, nas últimas duas ou três décadas, uma universidade brasileira, pública ou privada, sabe que as filas das copiadoras são os lugares mais disputados de qualquer campus. Na semana que antecede à dos exames, uma fila de copiadora pode ser ainda maior do que a fila de um restaurante universitário, em pleno meio-dia. O fato é facilmente explicável: como nossos alunos, pobres ou ricos, não possuem o hábito de comprar livros, e como as nossas bibliotecas, de uma maneira geral, além de defasadas, possuem uma quantidade insuficiente de títulos, os professores, no desespero de ministrarem seus cursos, acabaram se acomodando às famosas “pastas”, nas quais arquivam cópias de trechos e capítulos de livros, quando não de livros inteiros, para que seus alunos possam reproduzi-las. Em regra, cada disciplina possui a sua respectiva “pasta” numa copiadora, devidamente identificada com o nome do professor, contendo todos os textos selecionados para o semestre. Isto ocorre, inclusive, nos cursos de Direito, o que significa dizer que no Brasil os estudantes começam a estudar Direito violando o próprio Direito – no caso, o direito autoral. Pois bem: outro dia, enquanto aguardava a minha vez numa dessas filas, pois precisava tirar cópia de um documento para mais um desses relatórios inúteis com os quais a burocracia acadêmica costuma consumir o tempo do professor, assisti a uma cena das mais edificantes, protagonizada por um pequeno grupo de alunos – dois rapazes e duas moças – que estavam bem à minha frente. Um dos rapazes segurava um texto extraído de uma pasta e aguardava a vez de entregá-lo à atendente da copiadora. Com o rabo do olho, percebi que o texto era um capítulo de Casa-grande & Senzala, de Gilberto Freyre. De súbito, meus ouvidos, normalmente pouco afeitos à conversa alheia, talvez por terem estranhado as frases que captavam, começaram a escutar o seguinte diálogo iniciado por