Artigo
Contributo para a definição de um modelo educativo: da escola transrnissiva
& escola construtiva
FRANCESCO TONUCCI (*)
O que pretendo apresentar não é uma teoria pedagógica, mas antes uma tentativa de encontrar, a partir de muitas e diferentes experiências escolares, algumas constâncias e coerências. Por um lado, será possível compreender as motivações e as articulações que expiicam uma escola transmissiva, já unanimemente recusada a nível teórico, mas ainda presente na prática educativa dos nossos países; por outro, delinear um modelo alternativo que, a partir das poucas e fragmentárias experiências existentes, possa prefigurar uma nova escola.
A utilidade desta contribuição parece-me dedutível de dois graves problemas abertos na nossa realidade escolar: uma separação total e crescente entre teoria psicopedagógica e prática escolar, separação essa que não parece atenuada pelo progressivo alinhamento da legislação escolar às indicações da pesquisa psicopedagógica;
6) frequentes propostas sectoriais no campo dos currículos, provenientes de especialistas das diversas disciplinas e carenciados de um projecto global.
O modelo que apresento fala de duas escolas: são naturalmente duas escolas hipotéticas, que representam os extrea)
mos de um continum que compreende as várias experiências reais.
A ESCOLA TRANSMISSIVA
Penso ser mais correcto denominar esta escola de transmissiva, e não de tradicional, pois o nome descreve o seu funcionamento sem exprimir juízos de valor. Esta escola funda-se sobre três pressupostos fundamentais:
1 - A criança não sabe, e vem a escola para aprender;
2 - O professor sabe, e vem à escola para ensinar a quem não sabe;
3 - A inteligência é um vazio que se enche progressivamente pela sobreposição de conhecimentos. Este último pressuposto, que parece paradoxal pois já o filósofo latino escrevia: «a inteligência não é um recipiente que se encha, mas é um