Artigo Para Revista Garrafa
AUTOR: Ana Cristina Pinto da Silva (Mestranda em Ciência da Literatura/UFRJ)
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Literatura Comparada
PALAVRAS-CHAVE: Literatura alemã, Kafka, O Processo
RESUMO: Uma reflexão sobre o pensamento que se delinea por trás da obra kafkiana, a partir da parábola intitulada “Diante da Lei”, que faz parte d'O Processo, tendo em mente a obra de um modo geral, sobretudo seus escritos pessoais.
Se Kafka escreveu um inferno, era isso justificado pela idéia que se fazia de paraíso. 1
O presente ensaio pretende refletir sobre a produção literária de “um certo Sr. Franz Kafka.”2 É tão somente mais uma tentativa – modesta! – de aproximação desse escritor: homem de infinitas faces, estrela de inúmeras pontas. É preciso escolher uma das faces e mergulhar fundo no olhar que se mostra; tomar uma das pontas e deixar-se guiar por seu brilho. É somente assim que esse desafio parece acenar-me com a mão da vitória.
Aproximo-me de Kafka apoiada no pressuposto de que sua obra se volta para o protesto contra uma realidade alienante, artificial, injusta e hipócrita. Tomo por base o romance O Processo (com destaque para a parábola intitulada “Diante da Lei”, inserida n’O Processo e publicada à parte pelo próprio Kafka), fazendo referência a outros trabalhos de Kafka, em especial aos seus escritos pessoais, ao meu ver fundamentais para quem deseja aproximar-se do homem e do autor, acreditando que essa separação, na verdade, não se justifica, o que parece se comprovar ao nos acercarmos de sua biografia. É por crer no intercâmbio entre homem e autor que procedo, em primeiro lugar, a algumas reflexões a partir da biografia de Kafka atentando, evidentemente, para os fatos que mais diretamente ecoam em suas obras.
Não estou, deste modo, defendendo a visão de um autor voltado para a expressão pura e simples de uma subjetividade confusa, reflexo dos conflitos que viveu Kafka desde a infância, mas sim a de um autor