Artigo cortella
Formação docente: recusar o pedagocídio
Mario Sergio Cortella*
Todas as vezes que se começa a discutir a Educação no Brasil, seus desatinos, transtornos e putrefações, um certo desalento invade variados territórios mentais e, melancolicamente, pessoas suspiram: “É, a escola pública do passado é que era boa; temos de resgatar aquela qualidade de ensino e a dedicação dos professores ”.
Resgatar! Resgatar a cidadania, resgatar a democracia, resgatar a qualidade da escola! Já ouviu ou leu isso?
Mera ilusão; o verbo supõe que algo já existiu e é preciso ir à busca e trazer de volta o que um dia já esteve presente. Ora, cidadania não é mera garantia de direitos formais, assim como democracia não se esgota em sufrágios eventuais nem qualidade da escola dever ser confundida com privilégio.
Insista-se: em uma democracia cidadã, é indispensável sempre pensar em qualidade social, o que, evidentemente, exige quantidade total; em uma sociedade na qual se deseje vivência igualitária, qualidade sem quantidade não é qualidade, é privilégio.
Ainda não tivemos cidadania, democracia e Qualidade socialmente distribuídas e eqüitativamente apropriadas e, desse modo, a nossa tarefa é construir e não resgatar. Se quisermos colocar a formação de professores como um elemento essencial nesse projeto de construção de um futuro coletivamente digno, temos de ir até algumas causas mais profundas e visitar um pouco a gênese de determinados equívocos.
Calma lá! Não é assim tão simples escolher um único culpado...
Costumo começar várias reflexões com colegas docentes, especialmente aquelas e aqueles que atuam na Educação Básica, lembrando de forma caricatural uma das frases mais proclamadas por nós: “Os alunos de hoje não são mais os mesmos”! Após algumas repetições mais teatrais da mesma exclamação, ressalto que isso é algo óbvio por completo. Digo eu: “É claro que os alunos de hoje não são mais os mesmos! Até aí, quem isso fala, demonstra apenas um pouco de sanidade mental”.