arthur shopenhauer
Quase nenhum sistema filosófico é tão simples e composto de tão poucos elementos como o meu, podendo, por isso, ser facilmente visto e apreendido com um olhar1. Artur Schopenhauer
Para Schopenhauer, a tarefa da filosofia é decifrar (entzifern) o enigma do mundo, descobrir a verdade e apresentá-la conceitualmente. Já no prefácio à primeira edição de O Mundo como Vontade e Representação, o filósofo anuncia: "o que aqui se propõe ao leitor é um pensamento único (ein einziger Gedanke)" (MVR, prefácio, p.01). O propósito deste capítulo é apresentar, de modo panorâmico, esse "pensamento único", enfatizando as questões da ética e da liberdade, temas principais da presente pesquisa. Pretende-se articular uma visão de conjunto do "sistema" de Schopenhauer, como forma de preparar o desenvolvimento específico das questões-alvo nos capítulos subseqüentes. Herdeiro do idealismo transcendental kantiano2, Schopenhauer afirma que "o maior mérito de Kant é a distinção entre o fenômeno e a coisa em si" (CFK, p.522, p.87). Mantendo-se nessa perspectiva, sustenta uma "dupla significação" do mundo, que pode ser "tomado como" representação (os fenômenos em Kant), ou 1 SCHOPENHAUER, A. Fragmentos para a história da filosofia. Trad. Maria Lúcia Cacciola. SP: Iluminuras, 2003, § 14, p.118. 2 Segundo Kant, "transcendental [é] todo conhecimento que em geral se ocupa não tanto com objetos, mas com o nosso modo de conhecimento dos objetos na medida em que este deve ser possível a priori. Um sistema de tais conceitos denominar-se-ia de filosofia transcendental". [KANT, I. Crítica da Razão Pura. Trad. Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. SP: Nova Cultural, 1999, Introdução, p.65]. Profundo admirador de Kant, Schopenhauer afirma sobre ele que "a obra-prima acabada de um verdadeiro grande gênio terá sempre o efeito profundo e penetrante sobre