artes
Por Sergio Zlotnic*, especial para o Portal da SP Escola de Teatro
I - A chuva está ligada à narração de fábulas desde tempos imemoriais. Isto se deve ao fato de que o homem das cavernas ainda não possuía guarda-chuva nem linguagem. Ele apenas passeava em enormes prados. Quando chovia, era obrigado a ficar em casa. E ficava muito sem assunto, pois não sabia falar. Para quebrar a monotonia, começou a contar estórias. O homem inventou a linguagem por falta de assunto.
II – A palavra é matéria-prima do teatro. Mesmo que seja uma palavra muda e sem som (especialmente nesse caso). Mesmo que seja uma palavra-imagem. Nos palcos, a linguagem é elevada ao seu grau máximo de expressão, como se o dramaturgo a esganasse, pressionasse a linguagem à exaustão, obrigando-a a se reinventar. Reunindo – como se sabe – todos os campos das artes numa cena/acontecimento, que se dá em tempo real, o teatro é um buquê que contém em si mesmo música, literatura, dança, luz, gesto e muito mais. E, como na poesia, o que se vê no palco é a celebração da forma, mais que do conteúdo. Por isso é que a palavra calada e sem som tem ali valor maior. Por ser silenciosa, ela não fecha o sentido, mas se oferece aberta para que o espectador a preencha como puder, ou a deixe vazia, exposta, vulnerável, desafiadora. Evidentemente, som, luz e gesto são também linguagem, ou maneiras da palavra se exibir. O cenário e o figurino, por exemplo, são plenos de linguagens, que dialogam com a encenação, em pé de igualdade – e não meros coadjuvantes funcionando de modo cosmético.
III - A palavra carrega memória e uma dimensão sensorial que a liga ao corpo somático. Nascida na cerca que separa o humano do animal, apesar de fundar a cultura, a linguagem mantém seus vínculos intactos com a natureza e com as sensorialidades: as sensações do corpo. O campo das artes em geral, e o teatro em particular, tem sempre a tarefa de revelar essas conexões esquecidas e não tão evidentes da