Arte e consumo
Arte, hoje, como tudo, é um produto. Arte vende, e circula na medida em que vende. Os artistas são grandes artistas e suas obras são primas na proporção quase exata de seu sucesso comercial. Arte é, deste modo, para poucos. Os poucos que podem adquiri-la a seus preços exorbitantes. É o que os especialistas em arte e profissionais do belo dizem. O mercado de arte cresce, produz-se mais, vende-se mais para assim produzir-se ainda mais. O capital artístico cresce, apesar das teorias apocalípticas. De que adianta teorizar e escrever textos de reflexão em torno do fenômeno da arte hodierna, se estes textos não vendem e, assim, não circulam, não são lidos? Há, juntamente com a arte, o kitch. Reproduções que trazem o eco de valores da elite de outrora (eterno desejo da pequena burguesia de ascender à aristocracia), a preços acessíveis à classe média, mas que são de fato coisas retrógradas e simplórias na perspectiva da estética de vanguarda – como a arquitetura colonial ou quadros “impressionistas”, por exemplo. Então, vem a avalancha de Taiwan, para as classes baixas. Isso é o mesmo para literatura, fonografia, cinematografia e demais reprodutíveis. O que não é “alta arte” – arte da elite econômica e intelectual – é melhor rotulado de “produto cultural” ou, nas camadas mais baixas, simplesmente de produto, bugiganga, bibelô elembrancinha mesmo. Enfim, não importa a origem e o meio onde circula, tudo que vige e tem espaço na contemporaneidade é, seja o que for, um produto. Produtos. Vivemos, desejamos, pensamos, adquirimos, doamos e nos desfazemos de produtos. Existimos em meio à farta produção de nossa civilização industrial que cada vez produz mais e mais barato nos soterrando com uma quantidade de produtos cada vez maior e sempre mais e mais acessível. Será vã nossa crítica à sociedade de consumo capitalista se enxergamos o homem apenas como um ser produtor e reprodutor. Isso porque nosso agir é muito mais