armadilha
José Maria Castro Caldas
Para um economista, o título de um dos livros de Zygmunt Bauman - A Modernidade Liquida - não pode deixar de evocar Keynes e as páginas da Teoria Geral dedicadas à analise dos mecanismos dos mercados financeiros e monetários. Esta associação espontânea é confirmada nas primeiras páginas do livro. De facto a liquidez de Bauman, como a de Keynes, refere-se quer a relações e compromissos (commitments) que podem ser facilmente revertidos, ou revertidos a baixo custo, quer a contextos sistémicos caracterizados pela precariedade dos laços que unem os seus elementos constituintes. Uma vez estabelecida a analogia, a leitura de Bauman à luz de Keynes torna-se inevitável.
Mas que sentido pode fazer associar a liquidez de Keynes à modernidade líquida de Bauman quando a liquidez 'sociológica' se refere sobretudo a relações inter-pessoais e a liquidez de Keynes diz respeito a relações de indivíduos com coisas, activos ou objectos de propriedade? Isso é precisamente o que se pretende saber - a pergunta que só tem resposta depois de realizada a experiência.
O exercício consiste portanto em ler Bauman na óptica de Keynes. A expectativa é a de que a analogia possa facilitar a identificação dos mecanismos através dos quais a gestão privada dos riscos tende a produzir como resultado um agravamento dos riscossistémicos, transformando a (in)segurança privada em insegurança colectiva- uma tese comum a Bauman e Keynes.
Tomando a Teoria Geral, ou pelo menos a leitura da Teoria Geral à luz da qual será lido Bauman, como ponto de partida, e dedicando a segunda secção à liquidez em Bauman (2000, 2001), o objectivo é chegar rapidamente à terceira secção onde são exploradas as analogias e ensaiada uma caracterização dos mecanismos da liquidez. As notas conclusivas referem-se ao significado da generalização da liquidez e às implicações resultantes.
1. A liquidez