Argumentação
A verdade possível
As noções de verdade e de ser encerram em sim as mesmas velhas questões filosóficas e encontram-se no centro da polémica que separou filósofos e sofistas. A concepção de verdade e de ser que na Antiguidade Clássica serviu de suporte à crítica dirigida à retórica, é, sem dúvida, diferente daquela que contemporaneamente sustenta as bases da reconciliação entre filosofia e retórica.
Numa concepção clássica, o ser identifica-se com tudo o que existe e é independente do modo como o dizemos/conhecemos, e a verdade é reconhecida como unívoca e absoluta.
Numa concepção contemporânea, a noção do ser e da verdade adquirem uma nova perspectiva, isto é, o ser diz-se de diferentes maneiras e apenas pode ser dito/conhecido por intermédio da linguagem, e a verdade é plurívoca e renovável. Apesar da argumentação pressupor a existência de diferentes teses e, também a possibilidade da contradição, não quer dizer, no entanto, que com o novo modelo de racionalidade se caia num relativismo absoluto ou que se negue o esforço de universalidade dos nossos conhecimentos acerca do real. Pelo contrário, significa o reconhecimento do pluralismo que a racionalidade encerra, isto é, o reconhecimento do que se pode dizer/conhecer do real (o real pode ser dito/conhecido de diferentes maneiras). Actualmente no próprio domínio das Ciências exactas, a concepção de verdade é diferente daquela que vigorou durante largos séculos. As teorias científicas são consideradas nos modelos explicativos (embora provisórios) do real. A verdade, adquire nos nossos dias um estatuto diferente, esta é “biodegradável”.
A pluralidade dos discursos A nossa apreensão e o nosso conhecimento do real dependem da maneira como interpretamos e da maneira como agimos no mundo. Este nosso mundo é sempre circunstancial e prefigurado na própria linguagem. A realidade diz-se de diferentes maneiras e apresenta-se em contextos diferentes, com significados diferentes.