Argonautas do pacifico ocidental
Bronislaw Malinowski, antropólogo britânico de origem polaca, combateu a abordagem evolucionista em antropologia e as interpretações assentes em reconstituições históricas sem fiabilidade, defendendo em vez disso um estudo baseado em estadas prolongadas no terreno no seio das populações a estudar. À importância conferida ao “trabalho de campo” em antropologia – que levou a cabo principalmente na Melanésia – acrescentou uma teorização das culturas, em que estas eram vistas como assentando, em última instância, na satisfação das necessidades biológicas dos indivíduos. Cada cultura constitui, na sua teoria, uma totalidade, em que cada costume, objecto material, ideia ou crença satisfaz uma função vital para a mesma, cabendo ao antropólogo estudar as relações entre o todo e a parte – tal é o postulado básico do funcionalismo de Malinowski. Assim, o conceito de função aparece como o instrumento que permite reconstruir, a partir dos dados aparentemente caóticos que se oferecem à observação de um pesquisador de outra cultura, os sistemas que ordenam e dão sentido aos costumes nos quais se cristaliza o comportamento dos homens.
A grande inovação de Malinowski no trabalho de campo consistiu na prática do que é chamado hoje em dia observação participante. Ele alterou radicalmente as práticas seguidas até então, passando a viver permanentemente na aldeia, afastado do convívio de outros homens brancos e aprendendo a língua nativa. Assim, embora não podendo dispensar o uso de informantes, substituiu-o em grande parte pela observação directa, que só é possível através da convivência diária, da participação nas conversas e acontecimentos da vida da aldeia. O fundamento desta técnica passa por um processo de “aculturação” do observador que consiste na assimilação das categorias inconscientes que ordenam o universo cultural investigado. Desta forma, a totalidade e a integração da cultura transformam-se numa realidade que é intuitivamente atingida pelo investigador