arcadismo
Olha, Marília, as flautas dos pastoresQue bem que soam, como estão cadentes!Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentesOs Zéfiros brincar por entre flores?
Vê como ali beijando-se os AmoresIncitam nossos ósculos ardentes!Ei-las de planta em planta as inocentes,As vagas borboletas de mil cores.
Naquele arbusto o rouxinol suspira,Ora nas folgas a abelhinha pára,Ora nos ares sussurando gira:
Que alegre campo! Que amanhã tão clara!Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,Mais tristeza que a morte me causara.
No soneto selecionado é importante destacar aspectos da estética Árcade, já que o autor retornou aos modelos clássicos, ou seja, o soneto transmite a ideia de arte como uma cópia danatureza refletida através da tradição clássica. Outro ponto a ser destacado é a retomada a obra Marília de Dirceu de Tomaz Antônio Gonzaga, fazendo uma ponte entre as obras e demonstrando aspectos deuma linguagem simples.
A partir da primeira estrofe nota-se a valorização da vida no campo (bucolismo), pois a amada é convidada a admirar as coisas simples ao seu redor, voltando-se para umavida simples e pastoril, inspirada na frase do escritor latino Horácio “Fugere Urbem” e na teoria do “bom selvagem” de Rousseau. Cumpre salientar que essa busca por uma vida simplória no campo é apenasum estado de espírito, uma ideologia, já que os autores mantinham seus interesses nos centros urbanos, portanto, nota-se o uso de pseudônimos de pastores.
Na segunda estrofe nota-se aidealização da mulher amada, outro aspecto muito importante na estética Árcade, pois na intenção de aproveitar o tempo “Carpe diem”, o pastor insinua que os beijos de outros amores incentivam os beijos dele coma mulher amada, principalmente naquele momento, já que aquela paisagem tão inocente e que transmite paz é propicia para este beijo.